Risco de rompimento em mina da AngloGold leva medo a Santa Bárbara

© Mateus Parreiras/EM/D.A.Press Pilha do Sapê exibe erosões em seus taludes e base trazendo risco de desabamento e catástrofe

As fendas profundas e voçorocas que se abriram com as chuvas engolem a base e os taludes de uma montanha de rejeitos da mineração de ouro. Se os mais de 80 metros de detritos da chamada Pilha do Sapê vierem abaixo, uma tragédia pode ser provocada como a de Brumadinho e até mesmo cortar o abastecimento de mais de 25 mil pessoas.

Por isso, os funcionários da Mina Córrego do Sítio (CDS), da AngloGold Ashanti, em Santa Bárbara, foram evacuados às pressas, segundo afirmam, na última semana de janeiro. A empresa chegou a minimizar, comunicando que se tratava de medida preventiva.

“O processo de erosão dessa estrutura é evidente e preocupante, precisa receber intervenção urgente. Reforça isso a retirada dos trabalhadores pela própria empresa”, afirma o professor Carlos Barreira Martinez, do Instituto de Engenharia Mecânica (IEM) da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), após ver as imagens exclusivas da reportagem do Estado de Minas mostrando os rombos na estrutura. A reportagem aguarda posicionamento da empresa.

O Governo de Minas Gerais, por meio do Gabinete Militar do Governador (GMG)/Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), informou que, “ao tomar conhecimento sobre possível instabilidade em uma pilha de rejeitos de mineração do complexo da Mina Córrego do Sítio, localizada no município de Santa Bárbara-MG e explorada pela AngloGold Ashanti, solicitou, de imediato, informações à mineradora”.

© Mateus Parreiras/EM/D.A.Press Detalhe das drenagens soterradas e da base da pilha erodida

Segundo a Cedec-MG, a Anglo Gold informou que identificou processos erosivos em uma pilha de rejeitos, mas que estes estão controlados, não havendo risco para a estrutura, e que o material está classificado como não perigoso.

“A empresa informou que não houve extravasamento de material ou impacto ao meio ambiente e às comunidades próximas. A empresa destacou que já faz intervenções preventivas. O Governo de Minas, por meio de seus órgãos fiscalizadores, está atento às operações da mineradora em pauta e acompanhando a situação”, aponta o órgão de estado.

Às moscas

No complexo CDS1 da porção oeste da mineradora não há mais nem sinal dos trabalhadores de macacão laranja da empresa. Tudo que ficava abaixo da Pilha de Sapê foi redirecionado, evacuado e transferido para a planta CDS2, 7,5 quilômetros a leste.

Enquanto especialistas afirmam que obras emergenciais de contenção da pilha deveriam estar em andamento, o cenário constatado pela reportagem do EM na última semana é de abandono. Não há movimentação de máquinas na pilha, e estruturas funcionais esvaziadas chegam a inundar com as chuvas ainda constantes.

© Mateus Parreiras/EM/D.A.Press Complexo minerário de Córrego do Sítio, da AngloGold em Santa Bárbara

A proximidade dos funcionários com o perigo se mostrava semelhante ao que se tinha na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, onde 270 pessoas morreram, em 2019.

À sombra da pilha minada pela água estão áreas de trabalho que eram ocupadas e intensas, como o escritório central, a 260 metros da estrutura, os alojamentos e refeitórios (290 metros), os tanques onde trabalhadores afirmam estar estocadas misturas com cianeto que é tóxico para animais e o ser humano (322 metros) e a portaria do complexo (600 metros).

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