Segundo especialistas, ter devaneios eróticos é comum e pode ajudar no desenvolvimento dos relacionamentos
João vai às alturas quando pensa em noites de sexo intenso com prostitutas. Lili sonha em fazer sexo amarrada à cama, vendada e à disposição de seu parceiro. Raimundo atinge rapidamente o orgasmo quando imagina estar transando com duas mulheres.
Histórias como a de João, Lili e Raimundo mostram como a imaginação pode ser um componente importante para o desenvolvimento da sexualidade humana. Embora seja um estímulo ainda considerado tabu para muita gente, especialistas apontam que os devaneios eróticos são perfeitamente saudáveis, ajudam a potencializar o imaginário e – o melhor de tudo – fazem bem.
“A imaginação é fundamental para a sexualidade humana, principalmente porque a fantasia age diretamente no desenvolvimento e no surgimento dos desejos sexuais”, explica a psicóloga e mestre em sexologia Vilene Eulálio de Magalhães.
Além de induzir à excitação ou até mesmo ao orgasmo, ela explica que as fantasias têm o poder de agir como um bom substituto da experiência real.
“Elas são o primeiro passo para que tenhamos de fato uma resposta sexual humana satisfatória na vida adulta”, diz a estudiosa.
Já a psicóloga e sexóloga Maria Isabella Nunes afirma que existem várias motivações que dão origem às fantasias sexuais, e elas são únicas a cada pessoa – podendo, inclusive, ser desenhadas socialmente.
“As fantasias são resultados de uma grande carga erótica nas nossas emoções e podem estar vinculadas a múltiplos fatores, como a busca pela inovação no ato sexual, pelo prazer, ou até mesmo em dar vazão a desejos reprimidos”, detalha.
Apesar do estigma que existe em alguns círculos de que elas estejam relacionadas a algo impuro ou vulgar, Maria Isabella destaca que ter fantasias sexuais é algo natural e que elas podem estimular tanto a criatividade quanto o desenvolvimento dos relacionamentos amorosos.
“Devaneios eróticos nos dão permissão para viver diferentes realidades, que muitas vezes não temos a chance de experimentar no cotidiano. Eles são uma valiosa oportunidade para olharmos o nosso corpo de uma maneira mais sensual, excitante e prazerosa”, observa. “Como algumas pessoas se permitem mais que outras, esse contato com o imaginário pode ainda ajudar a muitos a abdicar de preconceitos e julgamentos no âmbito pessoal e também de seus relacionamentos”, completa.
Limites
A psicóloga sistêmica, educadora e sexóloga Sueli da Paz concorda, mas acrescenta que é preciso estabelecer limites na hora de se fantasiar para que o desejo não se torne um agente complicador.
“Se alguém precisa sempre recorrer a fantasias, e elas acabam ficando mais importantes do que o próprio objeto sexual, isso em si já é um grande sinal de alerta”, avisa.
“Fantasiar permite ampliar horizontes, mas se não há reciprocidade ou se há medo, tristeza, desconforto, violência ou chantagem deixamos de falar em desejo para falarmos de poder, servidão ou desrespeito”, avalia Sueli que ainda lembra sobre a particularidade de cada um.
“Somos seres únicos. Cada um com seus desejos e possibilidades. Quando nos encontramos com o outro de forma verdadeira, temos escolhas a serem feitas, diariamente. As sexualidades são muitas, com desejos múltiplos, por isso precisamos exercitar o respeito e a liberdade sempre”.
Fantasia x perversão sexual
Mesmo sendo um elo natural para a busca do prazer, as fantasias sexuais não devem ser confundidas com perversão – ou parafilia, termo usado pela psiquiatria para nomear distúrbios psicossexuais. Vistas como doentias, essas preferências são capazes de causar sofrimentos clinicamente significativos.
“Parafilias são situações sexuais anormais e bizarras, que buscam substituir o relacionamento sexual padrão aceito em determinada sociedade”, detalha a psicóloga especialista em neuropsicologia Adriane de Melo Silvestre.
A médica diz que é importante ressaltar que as parafilias têm graus de intensidade diferentes.
“Tem quem sinta prazer ao se vestir de bebê, outros que só se relacionam com mendigos. Há aqueles que praticam o sadismo, que é o prazer sexual com o sofrimento do parceiro, ou o masoquismo, prazer sexual ao sentir dor ou imaginar que a sente. Entre os atos que consistem em crime, a pedofilia é um dos mais graves”, enfatiza.
Adriane explica ainda que em alguns casos o tratamento médico pode ser a única saída.
“Não há cura específica para parafilias, mas elas podem ser tratadas por profissionais especializados da psiquiatria e da psicologia com a finalidade de melhorar a saúde mental do paciente. Há situações em que o indivíduo consegue viver com a doença, podendo até mesmo reduzi-la em frequência e intensidade”, conclui.
Fonte: Jornal O Tempo