A possível liberação do governo de Minas Gerais para a venda de bebida alcóolicas no domingo (2), dia da eleição, causa preocupação em especialistas na área de segurança pública ouvidos pela reportagem. Apesar de não confirmar oficialmente a medida, o governo já teria feito um aceno à Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) que liberaria a venda dos produtos em um decreto a ser assinado nesta quarta-feira (28).
Professor da PUC Minas e especialista em segurança pública, Luiz Flávio Sapori disse que se confirmada, a medida seria um “erro grave” da gestão de Romeu Zema (Novo). “Seria uma medida equivocada e desconsidera que estamos em uma eleição atípica, diferente em outras eleições. A eleição atual, tem acirramento ideológico muito grande no Brasil, com sinais claros de violência política pipocando todo momento no cenário nacional. Uma medida preventiva, de bom senso, seria no domingo evitar a venda de bebida alcoólica e o consumo em espaços públicos. Seria sensato, considerando o atual cenário”, afirmou.
Para Sapori, a proibição apenas durante o horário de votação também não resolveria. “Tem que ser o dia inteiro e depois da votação. Não sabemos o que vai acontecer depois da apuração. E se os bares tiverem abertos, perdedores poderão reagir de forma passional e violenta à comemoração dos vencedores. Tem que ser pragmático e preventivo, não me parece uma boa ideia. É indefensável que libere essa venda”, disse.
No ponto de vista da atuação policial, o especialista e professor da PUC Minas avalia que vai ficar ainda mais difícil, já que militares ficarão voltados para possíveis conflitos em bares e restaurantes e deixarão as demandas do cotidiano, além de diminuir a capacidade ostensiva em locais de votação. “Para a Polícia Militar, essa é a pior medida a ser tomada”, avaliou.
Advogado criminal e pesquisador em segurança pública, Jorge Tassi também avalia a medida como ruim. Na visão dele, vivemos em um momento em que “ânimos estão à flor da pele” e a liberação geraria problemas pontuais. “Acaba favorecendo uma pessoa poder beber, se alterar e automaticamente passar para o processo de violência”, considerou.
Para Tassi, entretanto, mais importante é o marketing social que a proibição traz. “Mostra que o dia é sério, que devemos nos portar de forma vocacionada ao que fazemos, mostra a importância do voto, que tem que ser sóbrio. Não é dia para ficar no bar bebendo. Não que tenha problema. É o dia para que você possa com toda reflexão ir à urna, exercer o seu direito”, declarou. Tassi ressaltou que não manter a proibição seria um recado do governo de que essa vedação é algo “bobo e sem sentido”.
‘Restrição por horário seria conveniente’
O advogado e especialista em Direito Eleitoral, Leonardo Spencer, diz que as liberações da bebida já ocorreram em outros momentos no Estado, principalmente fora do horário de votação. Ele considera que eleitores, cabos eleitorais e candidatos sempre estocaram bebidas para consumirem durante a proibição e que, por isso, as pessoas acabam bebendo independente da norma.
Fonte: O Tempo