Economistas: pressão da demanda puxa queda no preço dos alimentos

Arroz está entre os produtos que sofreram deflação na Grande BH — Foto: Ciat/Wikimedia Commons

Após meses consecutivos de muita pressão inflacionária, enfim os alimentos começaram a sofrer diminuição em seus preços nas últimas semanas no Brasil, principalmente o leite e seus derivados. Para dois economistas ouvidos pela reportagem de O TEMPO, vários fatores explicam esse comportamento do mercado, mas ambos concordam em um ponto: a pressão do consumidor, que não conseguia mais pagar tão caro pelos produtos, puxa a deflação no setor.

A queda no preço ficou ainda mais clara com a pesquisa do Mercado Mineiro divulgada nessa segunda-feira (17). A maior queda dos alimentos na Grande BH aconteceu na peça de um quilo de queijo mussarela, que chegou a 53,5%: de R$ 75,35 para R$ 35,05. O arroz Tia Ju sofreu redução de 15,51%: de R$ 18,92 para R$ 15,98. Já o macarrão com ovos da marca Galo de 500 gramas recuou de R$ 3,68 para R$ 2,76 (25%). Isso só para citar alguns exemplos.

Responsável pelo levantamento, o economista Feliciano Abreu explica o que para ele comanda a baixa de preços. “Foi uma redução positiva em vários setores e em várias marcas. Não é uma questão isolada. O ponto que chama mais atenção é a redução do consumo (nos últimos meses). De repente, os supermercados estavam repassando o que vinha da indústria em matéria de aumento. Então, pode ter ocorrido um certo susto (com uma eventual queda das vendas pelo alto preço), motivando uma negociação (entre o varejo e o fornecedor) e repassando ao consumidor. O estímulo ao consumo é necessário nesse momento, porque a população estava reclamando demais”, diz.

O também economista Matheus Peçanha, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), concorda. Mas, faz ressalvas. “Pode estar acontecendo sim (pressão dos consumidores), mas temos uma certa dificuldade para mensurar esse fator. Com o retorno do trabalho presencial, e a redução de barreiras sanitárias, tem essa maior confiança no consumo. Há maior vontade de (o consumidor) demandar novamente. É um movimento que pode estar acontecendo. Mesmo que você (o empresário dos supermercados) reduza sua margem de lucros um pouco, acaba ganhando no atacado, no volume”, afirma o especialista.

Peçanha e Abreu vão além e apontam outras causas para a deflação dos alimentos. O economista da FGV lembra, por exemplo, que as lavouras não têm sofrido com grandes eventos temporais. Apesar da escassez de chuvas nos últimos meses, a avaliação dele é de que a seca não atingiu o campo da mesma maneira que aconteceu no ano passado. “A gente teve seca (severa de 2021), chuva em excesso e, depois, geada. Sempre que tivemos algum desses problemas, a lavoura e a pecuária sentiram. Estávamos também com um problema na pecuária leiteira. Mas, os prognósticos apontavam que não teríamos mais problemas de clima, principalmente no final de agosto e setembro. Estamos vendo isso agora, principalmente no hortifruti, que tem uma resposta mais rápida. No caso do leite, temos um retorno do investimento, porque muita gente estava deslocando a produção para a carne”, pontua

O economista da Fundação Getúlio Vargas lembra também da redução do preço do diesel. É bem verdade que a limitação do ICMS nos estados para os combustíveis não abarcou tanto esse produto, como aconteceu com a gasolina e com o etanol. Mas, ainda assim, há influência em alguma fatia na deflação dos alimentos.

Feliciano Abreu lembra, ainda, de um ponto que domina o noticiário atualmente: a eleição presidencial. “Infelizmente, a eleição tem peso sim. Se você conversar com o setor ninguém admite, mas há receio de fazer grandes investimentos no momento. Ninguém quer arriscar. O medo é a pior coisa que existe para a economia, porque desestimula o consumo”, diz.

O Tempo

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